Fibra, força e a luta de Luiza Helena Barrios

Luiza Helena Barrios enquanto Minisrta/ Divulgação

Luiza Helena Barrios enquanto Ministra/ Divulgação

Na terça-feira, 12 de julho, o Brasil se despediu de Luiza Helena de Bairros, ativista política e dos movimentos sociais, foi ministra-chefe da Secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Brasil, entre 2011 a 2014. Luiza Helena gaúcha de 63 anos fez carreira na Bahia, e forte, enfrentou preconceitos e mostrou que a mulher negra pode ser muito mais do que a sociedade quer dela.

No dia 27 de março de 1953, o militar Carlos Silveira de Bairros e a dona de casa Celina Maria de Barrios viveram o nascimento de Luiza Helena. Como qualquer criança, ela brincou, fez arte, mas sempre foi estimulada pelos pais a estudar.

Na juventude, na década de 1970, viveu algo que muitos porto-alegrenses viveraram. A segregação racial. Era costume da época, por exemplo, haver bailes para negros e outros para brancos. Algo que muitos na época achavam que comum, era um código de conduta.

Nos colégios em que estudou participou de grêmios estudantis e começou a se envolver com as questões raciais, algo que não desagradou a família, pelo contrário, era incentivada. Na faculdade, Luiza Helena, que se formou em Administração na UFRGS, no ano de 1975, pertencia ao diretório acadêmico. Foi neste período que ela, através de um amigo, teve o primeiro contato com as informações sobre os movimentos sociais norte-americanos e ao conhecer os Panteras Negras, ficou entusiasmada e com a certeza do caminho que trassava na sua luta política.

Encontro dos formandos de Administração da UFRGS, em Salvador / Arquivo Pessoal - Geledes

Encontro dos formandos de Administração da UFRGS, em Salvador / Arquivo Pessoal – Geledes

Em 1979, Luiza Helena participou da Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em Fortaleza. Impactada com o alto número de participantes que eram envolvidos ao Movimento Negro de várias regiões brasileiras, a então bacharela em administração se atraiu de vez pelo assunto. O contato mais próximo dela foi com o Movimento Negro Unificado da Bahia, o que a incentivou mudar-se para Salvador, em agosto daquele mesmo ano. Em Porto Alegre o movimento também existia, mas era muito fechado, e para fazer parte apenas com indicação.

Em 1979, já em Salvador, Luiza Helena fez a especialização em Planejamento Regional, na Universidade Federal do Ceará. Pela Universidade Federal da Bahia, ela se tornou mestre.

De 1979 até o começo da década de 1990, a Mestre em Ciências Sociais, esteve envolvida em pesquisas com alta relevância para o conhecimento e o combate do Racismo no Brasil e nas Américas. Participou da coordenação da pesquisa Projeto Raça e Democracia: Brasil e Estados Unidos. Uma cooperação entre CRH e a National Conference of Black Political Scientists/NCOBPS.

Em 1997 se tornou Doutora em Sociologia pela Michigan University, nos Estados Unidos, se tornando assim, uma das maiores pesquisadoras brasileiras. Trabalhou como docente na Universidade Católica de Salvador, Universidade Federal da Bahia/UFBA, dentre outras. Organizou livros e foi autora de vários artigos e dossiês. Coordenou diversos eventos na área do combate a discriminação racial.

Conhecida por ser uma das principais lideranças do movimento negro no País, a doutora Luiza Helena fez parte dos grupos que contribuem e lutam pelo fim do racismo e do sexismo, e esteve a frente de diversas iniciativas de afirmação da identidade negra na sociedade brasileira. Em agosto de 2008 assumiu a titularidade da Secretária Estadual da Promoção da Igualdade racial da Bahia (Sepromi), e em 2011 se tornou ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Brasil. Cargo que manteve até 2014.

Uma mulher de vida discreta, com a família toda em Porto Alegre, lutou bravamente pelos direitos sociais de milhares de brasileiros, mas infelizmente, a sua força e fibra não foram suficientes para superar o câncer de pulmão que a levou de nós na fria terça-feira.