Amelia Earhart: a mulher que escreveu a história da aviação nos EUA

Amelia Earhart / Foto: banco de imagens

Amelia Earhart / Foto: banco de imagens

Amelia Mary Earhart (1897 – 1937) escreveu a história da aviação. A norte-americana foi a primeira pilota de avião a cruzar o Oceano Atlântico, autora de três livros (sendo um póstumo) e defensora dos direitos das mulheres.

Amelia nasceu no quente dia 24 de julho em Atchison, no Kansas, onde ficava a casa do avô materno, Alfred Otis, ex-juiz federal, e presidente do Atchison Savings Bank. Filha de Samuel “Edwin” Santon Earhat, advogado, e Amelia Otis Earhat. A pequena recebeu o nome de acordo com os costumes da família, assim como as duas avós. Por isso, na infância recebeu o apelido de Meeley, enquanto a irmã mais moça Grace Muriel Earhart, era chamada de Pidge.

Amelia e a irmã não receberam uma educação tradicional. Amy, mãe, não gostava de ideia de moldar as crianças em adoráveis, mesmo com a desaprovação da avó materna, que não gostava de ver as crianças trajando bloomers (traje feminino composto de calça a altura das canelas, saia por cima, ambas folgadas). E mesmo sendo uma roupa que as demais meninas da vizinhança não usavam, Amy sabia que a liberdade da vestimenta dava a Meeley e Pidge exatamente a noção da educação que ela estava dando a elas.

Por esta razão, os pais não desaprovavam quando Amelia decidiu que iria seguir a carreira na aviação. Mas até ela chegar lá, percorreu um grande caminho.

A vida não foi fácil, o pai teve problemas com o alcoolismo e também com o desemprego. Com os altos e baixos financeiros, em 1915, Amy levou as filhas para morar com amigos na Califórnia. Lá Amelia pesquisou quais eram as melhores escolas e manteve o seu caderno com recortes das mulheres que haviam quebrado preconceitos e eram importantes socialmente.

Durante o Natal de 1917, ao visitar a irmã, Amelia se deparou com uma cena que a incomodou bastante. Ver que os soldados norte-americanos feridos na 1ª Guerra Mundial voltavam sem terem sido devidamente socorridos a irritou e a fez tomar uma atitude. Viraria enfermeira, e logo após aquela cena recebeu treinamento como enfermeira na Cruz Vermelha. Começou a trabalhar no Destacamento de Ajuda Voluntária no Spadina Military Hospital em Toronto, Ontário. Sendo sua função preparar as refeições dos pacientes com dieta especial e retirar as medicações prescritas da farmácia do hospital.

Um grande susto

Em 1918 um grande surto de Gripe Espanhola chegou a Toronto. A doença assustou o mundo inteiro. Amelia estava tão ocupada cuidando dos doentes da gripe que quase não se importava em pegá-la. Só que a sorte não andou ao lado dela. Pegou a gripe e desenvolveu pneumonia, sendo internada em novembro e recebendo alta apenas um mês depois. Além da pneumonia, a então enfermeira desenvolveu uma forte sinusite, e como no período os estudos antibióticos eram recentes, Amelia sofreu diversas microcirurgias, a fim de diminuir a secreção facial, que a fazia sentir muitas dores, só que o tratamento não teve sucesso. Em virtude disso, Amelia desenvolveu posteriormente sinusite crônica.

Após sair do hospital, e ainda com dores, Amelia ficou quase um ano na casa da irmã.

O coração bateu forte

Amelia foi com uma amiga a Feira Aérea que acontecia conjuntamente com a Exposição Nacional do Canadá, em Toronto. O destaque era a exibição de um “ás” da 1ª Grande Guerra. Elas assistiram o voo em uma clareira isolada, quase a baixo do avião. E foi quando o piloto mergulhou em direção delas, provavelmente para lhes pregar um susto, Amelia sentiu uma mistura de medo e excitação. Em entrevista ela disse que na época não entendia, mas era como se o pequeno avião vermelho tivesse falado algo a ela.

Os estudos

Em 1919, Amelia resolveu que daria um novo rumo a carreira e começou a cursar medicina e outras matérias no Columbia University. Porém um ano após desistiu do curso e retornou aos Estados Unidos, indo morar com a família na Califórnia.

Em 28 de dezembro de 1920, ela e o pai visitaram um campo de pouso em Long Beach. Lá embarcou na experiência que a faria se apaixonar de vez pela aviação. A bordo do avião pilotado por Frank Hawks (que mais tarde tornou-se um importante piloto) ela teve certeza que precisava voar.

E rumo ao objetivo, ela arranjou diversos empregos, entre eles fotógrafa e caminhoneira, e juntou os $ 1.000,00 necessários para fazer o curso de aviação.

Em 21 de janeiro de 1921 começou os estudos em Kinner Fiel, próximo a Long Beach. Uma de seus mestres foi Anita “Neta” Snook, uma das mulheres pioneiras da aviação.

Em 22 de outubro de 1922, Earhart voou a uma altitude de 14000 pés, batendo um recorde mundial para aviadoras. Em 15 de maio de 1923, Earhart torna-se a 16ª mulher a conseguir uma licença de voo da Fédération Aéronautique Internationale (FAI).

Mudanças a vista

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Em 1924 a vida deu outra volta. Uma nova crise de sinusite, que a fazia sentir muitas dores, fez sê-la novamente internada para uma cirurgia, que não deu certo. Amelia teve que se afastar da aviação. No mesmo ano, após o divórcio dos pais, ela embarcou com a mãe para uma excursão pelos Estados Unidos. Indo morar em Calgary, Alberta. Em Boston se submeteu a outra cirurgia, essa bem-sucedida. Após a recuperação, voltou aos estudos no Columbia University, porém teve de abandonar os estudos em virtude de problemas financeiros.

Após conseguiu um emprego como professora, e em 1925, tornou-se assistente social no “Denos House”, em Medford.

Como a paixão pela aviação não passou, Amelia tornou-se membro da American Aeronautical Society de Boston, sendo eleita vice-presidente posteriormente. Investiu uma pequena porcentagem no aeroporto Dennison, atuando depois como representante de vendas dos aeroplanos Kinner em Boston. E passou a escrever para o jornal local promovendo a aviação, e começou o projeto de uma organização para pilotos femininos.

Em Boston, Amelia foi considera a melhor piloto da década, algo contestado por muitos especialistas. Embora os comentários, em 1927, ela conseguiu chegar a marca das 500 horas de voo.

Amelia aos poucos foi tornando-se uma celebridade, não apenas pela aparência ser similar a Lindbergh, mas por ter uma grande influência na área. Em 1928, fez um voo sobre o oceano atlântico, mas como passageira, algo que não a agradou muito, já que havia sido convidada a pilotar. Mesmo assim, o ano marcou a sua carreira.

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A fama trouxe a Amelia a oportunidade de empreender. Fez comerciais, teve a própria linha de roupas. Tornou-se referência no feminismo e conseguiu arrecadar o dinheiro necessário para suas incursões aéreas.

Quando aceitou o cargo de editora associada da revista Cosmopolitan, percebeu a oportunidade de angariar a aceitação pública para a aviação, promoveu especialmente a entrada das mulheres na área. Em 1929, Earhart esteve entre os primeiros pilotos a promover voos através do serviço de linhas aéreas comerciais.

O autodesafio

Amelia queria bater um recorde só seu, um autodesafio. Ao retornar a pilotagem do Avian “7083”, ela se lançou no primeiro voo solo longo que ocorreu quando seu nome começava a destacar-se nacionalmente. Ao finalizar a viagem em agosto de 1928, Earhart se tornou a primeira mulher a fazer um voo solo de ida e volta através do continente norte-americano. Gradualmente seu nível de pilotagem e profissionalismo amadureceu, como reconheceram os pilotos profissionais experientes que voaram com ela. O general Leigh Wade, que voou com Earhart em 1929, reconheceu: “Ela nasceu para pilotar, com um toque delicado no manche”.

Em 1930, Amelia se tornou uma oficial da National Aeronautic Association, no qual trabalhou ativamente para estabelecer a separação dos recordes femininos e foi essencial na aceitação de um padrão internacional semelhante pela Fédération Aéronautique Internationale (FAI). Um ano depois, ao pilotar um Pitcairn PCA-2 autogiro, quebrou o recorde mundial de altitude de 18.415 pés (5.613 m) em um equipamento emprestado pela empresa.

Amelia advogou vigorosamente pelas mulheres-piloto e quando em 1934 a corrida “Bendix Trophy” baniu as mulheres, ela recusou-se a voar com a atriz Mary Pickford para Cleveland para abertura da corrida.

O coração bateu forte novamente, mas não foi por um avião

Amelia e GP / Foto: arquivo do museu Amelia Earhart

Amelia e GP / Foto: arquivo do museu Amelia Earhart

Após um longo noivado com o engenheiro químico, Samuel Chapman, ela rompeu com ele em 23 de novembro de 1928. Nesta época a amizade entre Amélia e George Putman ficou muito próxima, tão próxima que GP divorciou-se da esposa em 1929.

Mesmo com o namoro, Amelia recusou o pedido de casamento por parte de GP seis vezes, e depois de muita insistência aceitou o noivado. Os dois casaram-se em 7 de fevereiro de 1931, na casa da mãe de Putnam, em Connecticut.

Um casamento diferente aos olhos dos outros, com muito amor e respeito entre os dois, no qual a liberdade individual de cada foi respeitada. Tanto que Amelia não adotou o nome do marido, por opção de ambos.

O voo solo transatlântico

O primeiro voo transatlântico de Amelia começou na manhã do dia 20 de maio de 1938, na época a pilota tinha 34 anos. Ela partiu de Harbour Grace, Terra Nova, e após 14 horas e 56 minutos chegou a Paris.

Por ter sido a primeira mulher a efetuar um voo solo sem escalas através do Atlântico, Amelia Earhart recebeu a “Distinguished Flying Cross” do Congresso dos Estados Unidos, a “Cruz de Cavaleiro” da Legião de Honra do governo francês e a “Medalha de Ouro” da National Geographic Society das mãos do presidente Herbert Hoover. Com o crescimento da fama, tornou-se amiga de várias personalidades com cargos públicos importantes, como Eleanor Roosevelt, a “Primeira Dama”. Com Roosevelt compartilhava de muitos interesses e paixões, especialmente as causas das mulheres.

Entre 1930 e 1935, Amelia bateu sete recordes de velocidade e distância para mulheres em várias aeronaves: Kinner Airster, Lockheed Vega e Pitcairn Autogiro. Em 1935, reconhecendo as limitações de seu “amado Vega vermelho” em longos voos transoceânicos, Amelia pensou, em suas próprias palavras, um novo “prêmio: um voo que eu gostaria muito de tentar – a circum-navegação do globo o mais próximo da sua linha de cintura que pudesse.

Do voo Mundial ao desaparecimento

Após bater recordes, Amelia decidiu que faria a volta ao mundo. Para isso reuniu uma equipe e planejou a viajem. A primeira tentativa foi em 17 de março de 1937, mas adiada em virtude de problemas técnicos.

Com o Electra sendo reparado, Earhart e Putnam conseguiram fundos adicionais e se prepararam para uma segunda tentativa. Voando de oeste para leste, sem publicidade de Oakland para Miami, Florida e após a chegada, Earhart fez o anúncio público de seus planos de voar ao redor do planeta. A alteração do direcionamento do voo foi provocada pelas mudanças meteorológicas e de vento ao longo da rota planejada desde a primeira tentativa.

Fred Noonan foi o único membro da tripulação de Earhart no segundo voo. Eles partiram de Miami em 1 de junho e após várias escalas na América do Sul, África, Índia e Sudoeste da Ásia, chegaram em Lae, Nova Guiné em 29 de junho de 1937. Nesse momento a viagem havia completado cerca de 22.000 milhas, e restavam 7.000 milhas sobrevoando o Pacífico.

No dia 2 de julho do mesmo ano, Amelia e Nooan decolaram de Lae no Electra rumo a Ilha Howland, a 4.113 km de distância. Com alguns erros de navegação e no sinal de rádio, a última posição relatada deles era próxima as Ilhas Nukumanu, a cerca de 1.300 km depois do ponto de decolagem. A guarda costeira que estava apostos a guiá-los até a Howland estranhou a demora do Electra e acionou as buscas, que duraram três anos, sendo que Amelia foi declarada morta em 5 de janeiro de 1939.

Entre muitas teorias do desaparecimento da pilota e do co-piloto, a mais aceitável é de que a aeronave tenha caído na Ilha Gardner, principalmente por terem sido encontrados vestígios que podem ser do Electra.

A autora

Amelia/ Foto: Museu Amelia Earhart

Amelia/ Foto: Museu Amelia Earhart

Além de enfermeira e pilota, Amelia Earhart também foi escritora e editora aeronáutica na revista Cosmopolitan de 1928 a 1930. Escreveu artigos, colunas de jornais, ensaios e publicou dois livros baseados em suas experiências de vida na pilotagem. Das obras que publicou foram:
20 h., 40 Min., de 1928: contou a experiência como primeira passageira num voo transatlântico.

The Fun of It, de 1932: memórias sobre suas experiências de voo e ensaio sobre a mulher na aviação.

Last Flight, de 1937 (obra póstuma): o livro reuniu os artigos periódicos que ela enviava para os Estados Unidos durante sua tentativa de voo ao redor do mundo, publicadas semanas antes até sua última decolagem de Nova Guiné. A obra foi organizadas pelo marido Putnam após seu desaparecimento no Pacífico.

Fibra, força e a luta de Luiza Helena Barrios

Luiza Helena Barrios enquanto Minisrta/ Divulgação

Luiza Helena Barrios enquanto Ministra/ Divulgação

Na terça-feira, 12 de julho, o Brasil se despediu de Luiza Helena de Bairros, ativista política e dos movimentos sociais, foi ministra-chefe da Secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Brasil, entre 2011 a 2014. Luiza Helena gaúcha de 63 anos fez carreira na Bahia, e forte, enfrentou preconceitos e mostrou que a mulher negra pode ser muito mais do que a sociedade quer dela.

No dia 27 de março de 1953, o militar Carlos Silveira de Bairros e a dona de casa Celina Maria de Barrios viveram o nascimento de Luiza Helena. Como qualquer criança, ela brincou, fez arte, mas sempre foi estimulada pelos pais a estudar.

Na juventude, na década de 1970, viveu algo que muitos porto-alegrenses viveraram. A segregação racial. Era costume da época, por exemplo, haver bailes para negros e outros para brancos. Algo que muitos na época achavam que comum, era um código de conduta.

Nos colégios em que estudou participou de grêmios estudantis e começou a se envolver com as questões raciais, algo que não desagradou a família, pelo contrário, era incentivada. Na faculdade, Luiza Helena, que se formou em Administração na UFRGS, no ano de 1975, pertencia ao diretório acadêmico. Foi neste período que ela, através de um amigo, teve o primeiro contato com as informações sobre os movimentos sociais norte-americanos e ao conhecer os Panteras Negras, ficou entusiasmada e com a certeza do caminho que trassava na sua luta política.

Encontro dos formandos de Administração da UFRGS, em Salvador / Arquivo Pessoal - Geledes

Encontro dos formandos de Administração da UFRGS, em Salvador / Arquivo Pessoal – Geledes

Em 1979, Luiza Helena participou da Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em Fortaleza. Impactada com o alto número de participantes que eram envolvidos ao Movimento Negro de várias regiões brasileiras, a então bacharela em administração se atraiu de vez pelo assunto. O contato mais próximo dela foi com o Movimento Negro Unificado da Bahia, o que a incentivou mudar-se para Salvador, em agosto daquele mesmo ano. Em Porto Alegre o movimento também existia, mas era muito fechado, e para fazer parte apenas com indicação.

Em 1979, já em Salvador, Luiza Helena fez a especialização em Planejamento Regional, na Universidade Federal do Ceará. Pela Universidade Federal da Bahia, ela se tornou mestre.

De 1979 até o começo da década de 1990, a Mestre em Ciências Sociais, esteve envolvida em pesquisas com alta relevância para o conhecimento e o combate do Racismo no Brasil e nas Américas. Participou da coordenação da pesquisa Projeto Raça e Democracia: Brasil e Estados Unidos. Uma cooperação entre CRH e a National Conference of Black Political Scientists/NCOBPS.

Em 1997 se tornou Doutora em Sociologia pela Michigan University, nos Estados Unidos, se tornando assim, uma das maiores pesquisadoras brasileiras. Trabalhou como docente na Universidade Católica de Salvador, Universidade Federal da Bahia/UFBA, dentre outras. Organizou livros e foi autora de vários artigos e dossiês. Coordenou diversos eventos na área do combate a discriminação racial.

Conhecida por ser uma das principais lideranças do movimento negro no País, a doutora Luiza Helena fez parte dos grupos que contribuem e lutam pelo fim do racismo e do sexismo, e esteve a frente de diversas iniciativas de afirmação da identidade negra na sociedade brasileira. Em agosto de 2008 assumiu a titularidade da Secretária Estadual da Promoção da Igualdade racial da Bahia (Sepromi), e em 2011 se tornou ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Brasil. Cargo que manteve até 2014.

Uma mulher de vida discreta, com a família toda em Porto Alegre, lutou bravamente pelos direitos sociais de milhares de brasileiros, mas infelizmente, a sua força e fibra não foram suficientes para superar o câncer de pulmão que a levou de nós na fria terça-feira.